domingo, 9 de junho de 2013

O Acampamento.

#Jeff TK



13 de outubro 20:00

 Os caixões estavam juntos no meio da pequena capela, ninguém acreditava naquilo, tão jovens eles eram.

 Pensar que tudo começou com a ideia de um simples acampamento.

 Algumas pessoas que sabiam onde os jovens haviam ido acampar comentavam sobre a tragédia.

 Será que teria sido o assassino? Não, não podia ser ele, a última morte naquele local havia acontecido a mais de 10 anos e a primeira a mais de 40. Teriam sido os próprios amigos?

 Não, essa era outra ideia a ser descartada. Pablo e Júlio estavam ali, sofrendo, infelizes.

 E se fosse uma assombração?

 Sim, no velório dos jovens haviam pessoas pensando nisso. Tudo isso por que a morte dos garotos havia sido muito misteriosa, nem os próprios pais entendiam o ocorrido.

 Em meio a soluços e lamentações, o velório de Fernando e Augusto prosseguiu.

12 de outubro 22:00

- Cara, foi muito bom ter escolhido esse lugar! Aqui é lindo. Disse Fernando.

- Sim, eu adoro essa sensação de saber que estamos distante da sociedade. Falou Júlio enquanto bebia a sexta lata de cerveja.

- Eu achei que era meio perigoso, mas o lugar está tranquilo. Falou Gustavo.

- Aqui não tem perigo, para esses lados do rio ninguém vem, o máximo que pode acontecer é você se assustar com as capivaras. Disse Fernando sorrindo.

 Os três amigos riram e Pablo seguiu quieto, parecia que algo lhe incomodava. Ele não gostou de ter dado a ideia de acampar naquele lugar, mas depois que havia contado para os amigos que ninguém mais acampava ali devido aos mais de seis assassinatos que haviam ocorrido naquele lugar nos últimos vinte anos, não teve mais escolhas, a história só serviu para consolidar a decisão. Pela manhã eles já tinham pegado a estrada a caminho do Rio das Dores, que ficava a mais de 150 quilômetros de Cachoeiras, a cidade paranaense onde os jovens moravam.

 Aquela era a sétima vez que os amigos iriam acampar juntos e também acabou sendo a última.

- Hey Pablo… Não vai me dizer que tá pensando naquela história?

- Cala boca Júlio! Falou Pablo, pois não queria tocar no assunto novamente.

- Fica frio irmão, esse louco que matou uns por aqui deve estar debaixo da terra já. Ou você acha que tem algum esconderijo aqui perto onde o maluco fica só esperando alguém chegar para ir atrás? Júlio falava dando risadas.

 Enquanto ouvia a conversa dos dois Gustavo imaginou o quão macabro poderia ser se alguma coisa sobrenatural acontecesse, com certeza Pablo morreria do coração. Foi ai que Gustavo sentiu algo em sua perna, olhou rápido para ver o que era, seu coração estava disparado. Acalmou-se após ver que havia derrubado cerveja na calça. Era só isso, cerveja.

 Aquele medo de Gustavo ainda iria desmoraliza-lo na frente dos amigos, mas o jovem não sabia o que fazer, já tinha procurado ajuda e mesmo assim nunca conseguira perder sua fobia. Pelo menos ele se sentia bem por não temer o sobrenatural e a violência como era o caso de seu amigo Pablo. Guto não tinha medo de gente morta e muito menos de gente viva, seu medo era outro e ele tentava manter o mesmo em segredo.

 Mesmo com a noite era fria, a conversa e a bebedeira continuavam firmes. 

13 de outubro – 02:00

 Os amigos resolveram ir dormir. Já tinham bebido demais, conversado demais e o cansaço era forte.

 Quando o sol raiasse eles teriam muitas coisas para fazer, queriam explorar um pouco, pescar, assar carne. Sabiam que naquele momento, ir dormir era o melhor. 

 Haviam trazido duas barracas. Em uma delas ficou Júlio e Pablo, na outra Guto e Fernando. 

 Júlio e Pablo dormiram rápido, Pablo dormiu por que não queria ficar acordado na escuridão e Júlio por que era o que estava mais bêbado dos quatro amigos. Já Guto e Fernando não tiveram uma noite tão boa assim. 

 Gustavo se arrumou, olhou em voltar para ver se estava bem protegido e antes de entrar debaixo de suas cobertas pediu para que Fernando fechasse bem a barraca.

 Fernando não estava tão mal quanto Júlio, mas devido ao que tinha bebido deixou uma fresta na porta da barraca, pois zíper emperrou e o jovem não conseguiu fechar. Achou que Guto não ia ligar para aquela pequena abertura.

 Depois de poucos minutos os dois estavam dormindo.

13 de outubro – 03:00

 Guto acordou, teve um pesadelo. Um pesadelo onde ele encontrava todos mortos, todos haviam sido vítimas de assassino do rio. No sonho a cena era horrível. As barracas estavam destruídas, Fernando pendia ao seu lado com a barriga aberta, tripas dominavam todo o chão onde eles haviam se deitado para dormir. Guto não aguentava a cena, vomitava e ia atrás de Júlio e Pablo.

 Na outra barraca ele encontrava Pablo sem a cabeça e Júlio totalmente mutilado. Desesperado o jovem Gustavo não sabia o que fazer, então ele ouvia uma risada e quando olhava para a direção do medonho som, via o assassino.

 Na verdade o que ele via era a forma de um homem, pois o mesmo se encontrava próximo a algumas arvores e lá era só escuridão. Guto notou que o homem segurava algo em uma das mãos, era a cabeça de Pablo.

 Então ele ouviu o monstro dizer:

- Você é o próximo.

 Guto pegou seu celular e tentou ligar para a polícia, mas o aparelho estava sem sinal. Com coragem ele procura por algo no chão e encontra um grande pedaço de madeira. Se arma e vai em direção ao assassino, pouco importava se ele era humano ou não, Gustavo queria vingar a morte dos amigos.

 O assassino entende a investida e também começa a avançar. Gustavo já se preparava para acertar o homem, quando tem uma surpresa. A luz da lua ilumina a cara do monstro e nesse momento o rapaz vê a identidade do assassino. O monstro que havia matado todos os seus amigos, era ele mesmo.

 Foi depois disso que o jovem abriu os olhos e agradeceu por tudo aquilo ter sido apenas um pesadelo. Gustavo encarou o teto da barraca, tentando entender o porquê de ter sonhado aquilo.

 De repente ouve um barulho e quando olha para o lado vê uma cena horrível. Fernando dormia de boca aberta e nem percebia o que estava acontecendo com ele.

 O corpo de Gustavo paralisa, sua fobia toma conta. Seu maior pesadelo começa agora na realidade.

Ele corre os olhos pela barraca sabendo que pode haver mais delas espalhadas por ali, e então sente que há algo em seu peito, nesse momento ele mija nas calças.

Consegue mexer a cabeça para verificar se sua intuição está correta e quando olha para baixo na direção de sua barriga acaba encarando o seu maior medo. 

 A aranha era preta e gigante, Gustavo conseguia ver os olhos da maldita. Olhos vermelhos, olhos de fome. A Aranha continuou avançando na direção de Guto e então o jovem sentiu que outra caminhava por uma de suas orelhas. A sensação de sentir aqueles bichos era horrível, o jovem nunca tinha visto aranhas tão grandes. Elas eram peludas e pesadas, caminhavam pelo corpo dos dois jovens lentamente, como se não estivessem com pressa para se alimentar. 

 Gustavo acabou morrendo do coração, o medo foi tão forte que lhe causou uma parada cardíaca. Morreu devido ao seu grande segredo. O rapaz desde de pequeno sofria de Aracnofobia.

 Já Fernando morreu dormindo, após três grandes aranhas entrarem em sua boca e obstruírem a passagem do ar. Se ele pudesse voltar no tempo, com certeza não teria dormido de boca aberta.


13 de outubro – 09:00 da manhã.

- O que nós vamos fazer? Gritava Pablo desesperado.

- Vamos chamar as autoridades, uma ambulância! É isso que vamos fazer! Respondeu Júlio.

- Cara, como nós vamos explicar essa merda? Já parou para pensar que podem achar que foi a gente que fez isso? Pablo estava desesperado, se estivesse sozinho ali o jovem provavelmente já teria feito uma burrada.


- Fica calmo velho, a gente não teve culpa, nós nem sabemos o que foi que aconteceu.

- Lembra daquela merda que eu contei para vocês? Da tal lenda, lembra?

- Não fode Pablo! Você não ta vendo o que aconteceu? Os dois estão mortos! Isso é sério, como diabos você vem me fala em lenda!

- Mas é verdade cara, esse lugar é maldito! Nunca a gente deveria ter vindo aqui, nunca! Vamos embora!

- E abandonar os caras? Porra quando o Nando falava que você era o mais pilantra eu não acreditava! A gente precisava resolver isso, eu vou chamar a polícia.

 Júlio pegou o celular e discou, na primeira a ligação não deu certo, ali o sinal era baixo. Na segunda tentativa um policial atendeu e Júlio lhe contou o que havia acontecido e onde eles estavam, desligou o telefone e olhou para Pablo que com a cabeça encostada em uma arvore tentava se acalmar.

- Eles estão à caminho, disseram que provavelmente vai levar uma hora para chegar, uma ambulância está vindo junto.

- Vai dar merda cara… O que a gente vai falar pros pais do Guto e pra mãe do Fernando!?

- Eu não sei. Respondeu Júlio.

 Realmente o jovem de dezoito anos não sabia como iria explicar a tragédia que havia acontecido. Da noite para o dia, dois de seus melhores amigos haviam morrido. Gustavo e Fernando, mortos dentro de uma barraca.

 Fernando estava com a cara roxa, boca aberta, olhos esbugalhados e vermelhos. Guto apenas pálido, olhos abertos, cara de assustado.

 Sem nenhum arranhão e com a barraca praticamente fechada. Os amigos de Júlio e Pablo estavam mortos.

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